Após a série de programas especiais sobre o Festival Radioca e da realização do mesmo, o programa fez um balanço de como foi o evento. Entrevistas com alguns dos artistas que se apresentaram, músicas gravadas diretamente dos shows, a repercussão e comentários de Ronei Jorge, Roberto Barreto e Luciano Matos. É o fechamento do evento que reuniu Siba, Cidadão Instigado, OQuadro, Mulheres Q Dizem Sim, IFÁ Afrobeat, Anelis Assumpção e Pirombeira. Uma boa oportunidade de relembrar como foram os dois dias de Festival Radioca.
O Radioca mostra as novidades da música brasileira, mas também volta no tempo para relembrar artistas que fizeram parte do cenário independente anos atrás e que influenciaram as gerações seguintes. Mesmo não tão famosos ou celebrados, ajudaram a formatar o que viria ser produzido pelas gerações seguintes. Um desses nomes, que estreia o quadro aqui no site, é a banda carioca Mulheres q Dizem Sim, que influenciou muito da cena carioca dos anos 2000 e que tem seus integrantes ainda na ativa em projetos diversos.
Por Ronei Jorge
Tudo indica que teremos a volta do Mulheres Q Dizem Sim. Pra quem não conhece, a banda teve uma carreira curta e acabou fazendo só um disco que saiu pela WEA em 1996. Eram outros tempos, ainda existia a mão grande das gravadoras pairando sobre os artistas e a sonhada liberdade artística era coisa pra veteranos. Quem viu a banda ao vivo no MAM, aqui em Salvador percebeu a potência que não se ouve no disco. De qualquer forma, a bolachinha é um retrato daquela banda de grande criatividade e de uma técnica invejável, muito acima da média do pessoal da geração- e olha que o pessoal da década de noventa já dá um pau tecnicamente na galera dos oitenta.
Curiosamente o grupo tinha três compositores: Maurício Pacheco, Pedro Sá e Palito. E, por mais que se percebesse uma fortíssima ligação com a música brasileira, garantida também pelos arranjos, são três autores completamente diferentes. Enquanto Maurício produzia belas canções com uma forte influência de Caetano, principalmente de sua fase Outras Palavras - "Jeito de Corpo" é um exemplo forte-, Pedro Sá pendia para um lado mais das experiências, assumindo e desconstruindo a canção, deixando tudo aparentemente mais livre, mais ou menos como os sustos que Hendrix e Gil nos pregam em suas músicas. Já Palito ia para um caminho mais funk e balançado, o que acabava destacando o groove e todas as possibilidades de território que a banda poderia caminhar.
O disco acabou ficando irregular, mas contém pérolas e já nos dá um conceito estético valioso para as gerações futuras. Nele você ouve a já famosa ligação do rock com música brasileira tocada com propriedade e muito feeling. Também dá pra perceber que o Mulheres ia por um caminho diferente de algumas bandas que tinha essa ligação com a MPB. Eles não partiam para uma leitura da MPB sob um viés de rock sessentista como bem fez o Picassos Falsos no SuperCarioca, nem também foram para uma releitura de gêneros da música nacional como fez o Paralamas nos ótimos Bora Bora e Big bang. Na estréia da MQDS o que se ouve é, em grande parte, uma canção que já nasce brasileira e ganha contornos roqueiros pela execução, muito próxima a da própria MPB dos anos setenta.
Além da já conhecida influência que o grupo deixou, três dos membros da banda continuaram em produtividade no circuito musical. Pedro Sá hoje é referência como guitarrista e produtor, com grande destaque para os trabalhos na Orquestra Imperial e na Banda Cê- fundamental para uma nova guinada na carreira de Caetano. Domenico, excelente músico e compositor, trabalhou como baterista de Adriana Calcanhoto e fez parte do +2, grupo com Moreno e Kassin- dois artistas importante da cena carioca e- de maneira diferente- "filhos" da MQDS. Maurício, além de continuar compondo, trabalhou com Yuca no seu projeto pós Rappa O F.U.R.T.O e produziu alguns discos com destaque para um belo disco da cantora Jussara Silveira. Somente Palito foi para a área de audio visual e publicidade e , de certa forma, saiu da cena musical.
O legado deixado pelo Mulheres é muito grande, seja por trabalhos de seus componentes individualmente, seja por artistas que ouviram aquele disco ou, como eu, assistiram aquele show no MAM.
Quem acompanha o Radioca deve ter percebido que além das novidades de sempre, Luciano Matos, Ronei Jorge e Beto Barreto estão trazendo de volta alguns artistas antigos desse chamado mercado paralelo da música, ou, com preferem alguns circuito independente. A ideia é mostrar como nossa música há muito tempo apresenta artistas novos que não circulam nos grandes veículos, não tocam em rádio, aparecem pouco, mas sempre produziram música relevante. Neste programa, destacamos duas bandas fundamentais para a música que é feita hoje, o Mulheres que Dizem Sim, do Rio de Janeiro, e o Fellini, de São Paulo. Também resgatamos uma música não tão famosa gravada por Chico Science, que é originalmente do próprio Fellini. Mas tem também novidades, claro. Tem música nova de Wado, tem o baiano Thiago Kalu, Bárbara Eugênia, o tributo a Jards Macalé, com Filipe Catto e Garotas Suecas, além, de muito mais. Confira.
Nesta edição, o Radioca presta uma homenagem especial a Peu Sousa, morto recentemente, com duas músicas suas. Uma ao lado de Pitty e outra em uma de suas primeiras bandas, a Dois Sapos e Meio. O programa traz também o quadro Árvore Genealógica, com a veterana cantora Diana e a paulista Bárbara Eugênia. Tem também nomes da cena mais recente da música baiana de estilos diversos, O Quadro, Os Nelsons, Gepetto e Velotroz. Além de um mergulho na cena carioca, com nomes atuais e mais veteranos, que fizeram e fazem da música do Rio de Janeiro uma das mais interessantes do país. Dessa cena, destacamos Tono, Mulheres q Dizem Sim, Tono e Jonas Sá. Muita música, bate papo e informação. Confira:
No quadro de lançamentos, os novos discos de Céu e Lucas Santtana
Como sempre, o Radioca mantém seu ouvinte atualizado com as novidades da música brasileira. Neste domingo, no quadro lançamentos, o programa traz dois dos mais esperados discos do ano: 'O Deus Que Devasta Mas Também Cura' , do baiano Lucas Santtana, e 'Caravana Sereia Bloom', da paulista Céu, e na cola deles, um papo interessante sobre as novas produções, com ponto de vista crítico a elas. O programa traz ainda músicas de nomes como Junio Barreto, Anelis, Thalma de Freitas, Los Hermanos, o baiano Messias e o veterano Lourimbau, além de uma pérola esquecida da banda Mulheres Q Dizem Sim.`